O processo do aprender é um processo humano, orgânico e complexo, no sentido de que cada indivíduo, com sua unicidade de experiências, identidade e contexto histórico-social, transformará o ato de aprender numa experiência absolutamente pessoal e auto-transformadora. No entanto, para que esse processo seja de fato transformador, tanto do aprendiz quanto do mundo que o cerca, é necessário que o aprendiz engaje o objeto de estudo, assim como o ato de estudar, de maneira crítica. Para Paulo Freire, é essa postura crítica diante do objeto de estudo e durante o ato de estudar que propicia o objetivo fundamental da educação: a de criar, recriar e co-criar o conhecimento, recriando, assim, o mundo que nos cerca. É essa postura crítica diante da busca do conhecimento que potencializa a educação, resultando em mudança.
Se entendermos o ato de estudar, de buscar conhecimento, como um processo de (re)criação, precisamos admitir que se trata de um processo dinâmico em sua natureza. Engajar-se de maneira crítica com determinado texto é estabelecer um diálogo com seu autor. É através do diálogo, do questionamento e do olhar crítico que o conhecimento poderá ser reinventado, rescrito e recriado. Para tanto, é necessário que o aprendiz tenha um aguçado sentido de agência, ou seja, que ele se veja agente de sua educação; que ele seja o sujeito na busca do conhecer e do aprender. O deixar-se “domesticar” ou “doutrinar” não faz parte da atitude crítica proposta por Freire. O sujeito deve penetrar o texto, imbuído de um senso de curiosidade, e sem medo de se deixar problematizar pelo diálogo com o texto.
O ato de deixar-se problematizar é um ato de entrega ao processo dinâmico e orgânico que é o aprender. Estar aberto para o aprender é abraçar a incerteza, já que o ato de aprender de maneira crítica pressupõe engajar-se com um texto com mente aberta e indagadora, de arriscar-se pelo desconhecido. A jornada do aprender se faz ainda mais reveladora se nos colocamos com humildade diante da busca. O ser humilde é ser crítico, no sentido de que o aprender é um desafio que demanda trabalho árduo e sistemático e que, muitas vezes, poderá exigir mais do que nossa capacidade de resposta em determinado momento. Devemos, assim, insistir e buscar nos equipar melhor para retornar ao texto/objeto de estudo em condições de entendê-lo e de estabelecer um diálogo produtivo com ele.
Como aprendiz, é tarefa de todo educador buscar o auto-conhecimento e a auto-reflexão. A vivência do aprender em primeira mão nos proporciona a possibilidade de insights importantes com relação ao processo de aprendizagem. Esses insigths podem resultar em rupturas necessárias para o refinamento de nossas abordagens, métodos e técnicas de ensinar, de exercer nosso papel de educadores em sua plenitude, buscando fomentar experiências de aprendizagem que instiguem a curiosidade e o engajamento crítico de nossos aprendizes com sua própria educação e com o mundo que os cerca.
Nas palavras de Paulo Freire:
“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las.”
FREIRE, Paulo in Considerações em torno do Ato de Estudar (1968)
Reblogged this on Ray's Atlas of the New and commented:
Paulo Freire pedagogical reflections (untranslated)
Hello there! Thanks for the reblog!
Cheers!
Thanks for the opportunity to practice my Portuguese!
Max, where are you from? 🙂
I am from Greensboro, North Carolina. But I learned Portuguese for assignments in Guinea-Bissau and Angola. Por isso, eu falo um poco da lingua Portugues.
Que interessante! É um prazer conhece-lo! A língua Portuguesa é bela e não tão fácil de aprender quanto o Inglês, por exemplo.
Clarissa, Estou encantada cm o texto parabéns!
Grata, Bernardete, pela leitura e elogio!